quinta-feira, 23 de abril de 2009

ecos



bandeira ou cravo em mãos quentes
de suor
guitarra que canta o sonho
num trinado
esquece a dor
aquele olhar bem longe
no horizonte vermelho de um dia
sobre as ruas conquistadas
por armas companheiras
de alegria
e tantas vozes que soam
num coro de acordar a vida

ecos trazidos pelo vento
brisa de gritos sobre o sono
na espera insana do recuar da lama
pelas margens do tempo

sábado, 18 de abril de 2009

este líquido corpo



Aqui está minha herança – este mar solitário
Que de um lado era amor e, do outro, esquecimento

Cecília Meireles, excerto de “Apresentação”


porque sou toda esta água
lançada entre altas terras continentes de ilusão
todo este líquido corpo
que se perde na voragem das margens da tua mão

quando secarem os rios que me alimentam a vida
ser-te-ei lembrança ausente – ponto fixo
luz perdida


foto de Chuck Gordon

terça-feira, 14 de abril de 2009

a água


a água, um fio sobre o lodo, esperando a maré. o céu, nuvem de algodão sujo. cenário de abandono onde um barco não é convite à evasão mas amarra à realidade. por ali deixei fúteis mágoas, amálgama sem préstimo na lama cinza. procurei o equilíbrio na madeira podre do cais. à espera do mar improvável.


foto de mariab - Carrasqueira

terça-feira, 7 de abril de 2009

versos de incerto rimar

algures neste planalto
alguém chora de abandono
um outro morre de fome
ou de doença já extinta
uma tristeza se espalha
uniforme indistinta
algures entre ti e mim
seca um dia a emoção
o bem-querer por crer tanto
que somos um mar sem fim
de desejo ou de tesão
como te parecer melhor
e quando nos damos conta
já alguém chora de dor

versos de incerto rimar
entre as vagas da paixão
e a doce maré de amar
que espalho de ponta a ponta


foto de Joannès Ceyrat

quinta-feira, 2 de abril de 2009

voaremos


voaremos por cima das rochas amarras que nos plantam no chão. o vento virá contra nós , remoinho de força cruel. toda a solidez será desfeita em terra. procuraremos então a essência dos sonhos perdidos. vasculharemos o pó para encontrar pequenos resíduos. vestígios do tempo em que não voávamos. e o vento não nos combatia. tentaremos talvez plantar de novo as rochas. na esperança de uma solidez perene.


foto de Ivan Krap