segunda-feira, 24 de agosto de 2009

azul verde



rastejam animais sem forma
no declive viscoso da realidade
mudam de pele rasgando as entranhas
azuis verdes de sangue
deslizam em oníricas danças
no chão dos salões que construímos
dos restos destroçados de antigas casas
azuis verdes de ilusão

na barra oscilante entre o sono e o sonho
há rios secos
leitos áridos do nosso olhar de sempre
azul verde


foto de B Berenika

domingo, 16 de agosto de 2009

a montanha

o chão é agora uma amálgama de destroços. sangram os pés descalços. ardem os olhos abertos para os mundos que se degradam. que sabem os homens a quem não incomoda o ar fétido? surdos para a essência, nunca ouvirão o som da flauta. o inequívoco anúncio doutros céus que paira sobre a peste das cidades. escutarão apenas um incómodo zumbido. nunca farão o sacrifício do sangue sobre as pedras do solo. nunca subirão à montanha.


foto de Sam

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

dança das marés


hora incerta
o acordar dos dias
no balanço dos barcos à deriva
é excessiva a luz incongruente
o azul mar de cetim
lança fitas brancas no horizonte
inesperado início da dança das marés


foto de michal karcz

sábado, 1 de agosto de 2009

nem por fogo

nem por fogo nem por água te moveste
e o meu sono despertou sobre o teu rosto
sombra alada rente à pele em terno voo
por fogo não te rendeste
por água não me encontraste
sobre a terra é perene um trilho de asas
branca luz em cego fundo dos teus olhos
cru desejo de um sonho que perdeste


foto de joe zellers