quarta-feira, 1 de julho de 2009

gavetas

acordo todos os dias virada para a cómoda castanha. quatro gavetas e puxadores dourados. não importa a data, a previsão meteorológica ou a minha vontade de começar o dia. à minha frente, a cómoda com puxadores já escuros, ouro a que o tempo retirou brilho. sei exactamente o que está dentro de cada gaveta. não acredito na possibilidade de algo me surpreender no espaço apertado de cada caixa rectangular. também sei qual a gaveta que vou abrir primeiro. ea que será a última. poderá acontecer algo de perverso se, um dia, mudar a ordem das gavetas. ou até a ordem pela qual as abro. poderá romper-se o equilíbrio precário do meu mundo de gavetas. posso acordar virada para uma parede branca ou uma janela rasgada. sem saber as consequências do meu acto de subversão, abro todos os dias as gavetas castanhas pela ordem certa.


mulher-gaveta, por Salvador Dali

19 comentários:

  1. Fantástico como é possível descreveres akilo que somos em poucas palavras ... Seres sem hábitos somos impossíveis de ser ... é possível sim , dar novamente brilho a esse brilho que o tempo tirou , acalmar o espírito daquilo que tudo o tempo levou ainda assim muitas marcas ficaram e para sempre connosco ficarão, no pensamento e na memória... =)Eufemismos estes ... Gostei do mto do teu pensamento ,Mtos Bjinhos

    ResponderEliminar
  2. Um dia tira tudo das gavetas cá para fora! Atira as coisas ao ar. E depois limpa-as e atira-lhes um cheiro bom. A seguir arruma tudo, deitando fora algumas coisas. Para variar...

    ResponderEliminar
  3. Belo poema, Mariab.

    Grande efeito onírico nos causa a sua poética de gavetas. Bachelard provavelmente se sensibilizaria com esse devaneio. Lindo!

    Um forte abraço,
    H.F.

    ResponderEliminar
  4. É de facto conveniente

    saber onde estão as coisas -

    nas gavetas da nossa mente!

    Beijoca

    ResponderEliminar
  5. Às vezes é a própria vida que nos surpreende...
    Um belíssimo texto!
    Beijos.

    ResponderEliminar
  6. M a r i a :


    que beleza....de "gaveta"___________aberta sobre a alma.


    um abraço....

    ResponderEliminar
  7. Todo o valor conotativo destas gavetas! Belissimo!

    ResponderEliminar
  8. Intenso! Verdadeiramente belo!

    Um abraço carinhoso e um ótimo Fim de semana para você!

    ResponderEliminar
  9. Um bom fim de semana cheio de sol e felicidade.
    Anad

    ResponderEliminar
  10. e cansa sem dúvida a "ordem" ordenada das coisas...

    e subversão q.b.

    com talento e (bom) gosto.

    admirável texto.

    ResponderEliminar
  11. Reconhecer as gavetas é já um grande equilíbrio! Gostei muito belíssimo texto! Um beijinho

    ResponderEliminar
  12. Isto é que é! De um móvel singelo e de uso quase mecânico pelas necessidades do cotidiano, criou uma alegoria primorosa. Necessariamente, grandes obras não carecem de cenários esplendorosos.
    Um beijo!

    ResponderEliminar
  13. grande

    a gaveta da vida

    grande a gaveta da morte

    [ grande dizer

    de

    gavetas,



    beijo



    ~

    ResponderEliminar
  14. eu não. sou surprendido muitas vezes, ao abrir gavetas, por coisas e recordações de que já não me lembrava.

    gostei da forma como abres e sabes as tuas...

    ResponderEliminar
  15. Abra então como se estivesse uma alma humana desse jeito.

    Carinho sincero, Mariab.
    Continuemos...

    ResponderEliminar
  16. Belo texto. A ordem, o equilíbrio do mundo numa gaveta da cómoda. Mas há a tentação de subverter, lá isso há...

    Beijinho.

    ResponderEliminar
  17. belíssima metáfora sobre os gestos que norteiam a vida de muitos.

    visitei o blog pela primeira vez e gostei muito dos textos que aqui li. parabéns!

    ResponderEliminar
  18. as gavetas em que nos vamos arrumando. as gavetas em que nos arrumam ...


    Belíssimo texto. Maria


    iv*

    ResponderEliminar

Aqui disse de mim. Diz tu também...