domingo, 21 de junho de 2009

dor de olhos baços



doem-me as cidades de pedra em que as borboletas não poisam. o silêncio intacto sem ecos do zonzo canto de cigarras. o pó que não saiu do ventre da terra. dói-me a certeza das noites de lua perdida entre paredes imóveis. os gritos dos olhos baços peixes em aquário seco. dói-me este gemido da vida em cada músculo do corpo. faço-me ponte de rios inexistentes. para que eles sejam. para que eu possa ser.

foto de Vincenzo Basile

13 comentários:

  1. Um belíssimo poema de sentido ecologista e muito poético.
    " faço-me ponte de rios inexistentes. para que eles sejam. para que eu possa ser. "
    Adorei. Um beijo.

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  2. Não residirá nas pedras, o problema. Antes na história dessas mesmas pedras. Naquelas pedras que não encerram passado, nem vozes sussurradas nos caminhos agora alcatroados. Pois se as pedras apenas calarem vidas vividas, existirão borboletas de memórias a circular-te na pele quando lhes tocares, ouvirás hinos narrados quando as olhares. E, então, cruzarás as pontes sobre os rios do tempo que correm no sentido inverso, rumo às nascentes. E serás um rio onde se beberá a história das cidades de pedra.

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  3. São os "delírios" que nos fazem pontes. São elas que nos permitem cruzar fronteiras.

    Nós somos, cada vez mais, "muralhas". Nós somos, cada vez menos, "pontes".

    É lindíssimo o que escreves.

    Beijo
    Francisco

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  4. sabe-se lá a água que poderá correr sob a ponte de rios inventados.

    ... e "pedras vivas" que resistem à derrocada das cidades.

    belíssima a tua escrita.

    beijo

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  5. Felizmente que nos permites a travessia.

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  6. há nos quotidiano algo de vazio que não nos preenche, há na vida real algo de cinzento que não nos faz sorrir, há no mundo de hoje gente que nada diz, trás-se na alma um gemido de dor, que não conseguimos descrever.

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  7. dói-me a dispneia

    dos parques

    dos bancos

    dos jardins

    nas cidades

    ] dói-me a lenta

    desistida

    respiração dos

    aquários

    onde são,




    beijo




    ~

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  8. Mariab...

    As cidades aprisionam, oprimem, sufocam, agridem, sangram o cinzento baço nos olhos, e gelam todas as emoções...
    Sim!... só essa ponte será a passagem para ir de novo ao encontro das borboletas!...


    Beijos...

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  9. Simplesmente fantástico, Mariab.
    Não sei nem tecer uma loa diante deste.

    Um carinho sincero.
    Sigamos...

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  10. Retornar e ler as suas palavras...
    Fazem pulsar forte o coração!

    É sempre muito bom estar aqui!

    Deixo um abraço com o meu sincero carinho

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  11. fluir de luzes,
    águas do desejo.

    belíssimo!

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