domingo, 4 de janeiro de 2009

ausente da memória




"Sem memória esvai-se o presente
que simultaneamente já é passado morto"

José Cardoso Pires, in De Profundis, Valsa Lenta



Não me lembro
se me eras sangue entranhas
ou só enlevo
         adoçante de alguns dias

É certo que não me lembro
de entrar pelos olhos dentro do teu peito
e lá ficar
menina mulher
         criança de embalar

Talvez porque não me eras sangue
deixei que te dissolvesses
no peso infinito do tempo

Hoje não te reconheço
enlevo, sangue, entranhas

estranho de mim
ausente da memória         



Foto de Stefano Orazzini

17 comentários:

  1. Talvez porque não fora sangue.

    Ou talvez porque o sangue já não faça mais sentido.

    liberto-nos de memórias na névoa do tempo gasto.


    E no gesto, existo.

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  2. Gostei imenso de te ler :)


    Obrigada pela visita.

    Beijo

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  3. Passado perdido, a coisa do fim, do esquecimento. Sempre nos empurrando dores e espantos. O peito nu da gente indefeso, atingido pela memória sem fim do inconsciente, esta praga.

    Um carinho, Mariab.
    Continuemos...

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  4. Muito bom o que nos ofereces aqui, eu agradeço, claro.

    Abraço.

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  5. Arabica,PiresF: eu é que agradeço a vossa presença aqui.

    Germano: é uma praga, mesmo... Beijo.

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  6. O pior é mesmo a ausência da memória. Belo!

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  7. Este comentário foi removido pelo autor.

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  8. dolente. musical. belo...
    gostei muito.

    beijo

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  9. hfm: é a negação do que existiu. a inexistência. beijo

    heretico: e eu gosto de te ver por aqui. beijo

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  10. Agradeço o convite. Envolvente de luz e ... paz

    Muito belo


    (já volto)





    iv

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  11. teu blog tira-nos o fôlego
    & guarda consigo
    porque sabe
    iremos voltar.

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  12. Não conhecia e gostei muito de ler!
    :))

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  13. parece-me que haver memória sim

    é só por si

    dor

    mas também a testemunha

    do s dia s

    ( ? o testemunho dum rio ~

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  14. maria josé: verdade. Bom ter-te por aqui.

    isabel victor: grata por teres aceite o convite.

    douglas D.: bem vindo a este espaço

    mdsol: também gostei muito, talvez por isso esta referência

    pi: quando algo se ausenta da memória, é como se esses dias não tivessem existido.

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  15. A melancolia do ponto de vista da linguagem primorosa. Belo poema. Por sinal, a estética do seu blog é um coadijuvante a altura da sua escrita.
    Um beijo e um feliz ano novo para você!

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  16. Oliver: Obrigada. Espero continuar a tê-lo por aqui. Feliz Ano Novo, também. Beijo

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